Os idiotas da objetividade

Flumerdense

Divulguem o texto enquanto o Fluminense não entra com um recurso para tirá-lo do ar

Pedirei agora licença ao intuito deste blog (este bem abandonado é verdade, admito) para escrever sobre o fato que chamou mais atenção na reta final do Campeonato Brasileiro 2013: a virada de mesa nos tribunais e a queda da Portuguesa à série B no lugar do Fluminense. Ironicamente, uso no título uma expressão de um torcedor fanático do clube beneficiado, Nelson Rodrigues, e basearei minha defesa nessa ideia. Os idiotas da objetividade. A definição foi bastante utilizada em textos desse mestre da nossa língua que tanto acrescentou à crônica esportiva.

A definição de Nelson Rodrigues se encaixa perfeitamente no caso que vimos ontem. Os idiotas da objetividade condenaram, por UNANIMIDADE, a Portuguesa à perda de quatro pontos e, de tabela, à queda de divisão, salvando assim o Fluminense de pagar por sua própria incompetência. Com isso, os membros que julgaram o caso caíram também em outra definição de Nelson Rodrigues, a de que toda unanimidade é burra. Temos então, julgando o caso, além de idiotas da objetividade, burros. Fato devidamente comprovado.

A Portuguesa pagou esse alto preço por ter um jogador irregular por menos de 15 minutos, em uma partida que nada definiria no campeonato. Mesmo perdendo, a Portuguesa estaria livre da série B. O Grêmio, o adversário na partida, também estava classificado para a Libertadores da América. Erro de comunicação, falha nos procedimentos internos? O julgamento foi definido na noite de sexta-feira e o fatídico jogo realizado no domingo. Temos então o erro de uma pessoa definindo o ano de um time.

De nada valeram 38 rodadas de campeonato. De nada valeu o ano da Portuguesa, o esforço dos jogadores, a presença da torcida, os ingressos, as viagens, investimentos, raça, vontade. Tudo isso foi jogado pela janela única e simplesmente pela presença de um jogador que, até então, nada tinha alterado no curso do campeonato. Foram 15 minutos jogando. Esses 15 minutos sobrepuseram mais de sete meses de trabalho de centenas de profissionais.

A aplicação da lei muitas vezes passa por cima do que consideramos justo. E os idiotas da objetividade, ah os idiotas, adoram utiliza-la sem considerar as circunstâncias de cada caso. Essa ação gera julgamentos como esse, no qual a justiça e o bom senso são postos de lado em detrimento do que está escrito. Eu imagino que os membros que julgaram esse caso devem ter anos e anos de estudo. Especialização, cursos, um currículo invejável. No entanto, eles apenas aplicam o que está na lei, utilizando-o como um livro de receitas. Peço desculpa aos comprovadamente idiotas e burros, mas eu, sem formação alguma em direito, posso ler o livro de regras e aplicar em um tribunal.

– Ok, vejamos, julgamento Portuguesa. Foi acusada de escalar um jogador irregular? Tá, deixa eu procurar aqui no livro… Achei, artigo tal. Hummmm, deixa eu ler aqui, pera… Tá, quando acontece isso o time perde 3 pontos além dos conquistados na partida. Total 4 pontos. Próximo caso!

Pronto. Qualquer pessoa que saiba ler pode aplicar o que está escrito. Não são necessários anos de estudo em direito para isso. Seriam necessários sim, para analisar cada caso considerando o contexto e todas as circunstâncias envolvidas. Necessários sim no entendimento de que de a lei foi criada para auxiliar na busca pela justiça e não para ser seguida de forma cega e burra, passando por cima de princípios e moralidade. Necessária para enxergar que o erro de uma pessoa, que não alterou o curso de um campeonato, não poderia causar tamanho estrago para um clube.

Eu acompanhei o julgamento de ontem e ficou claro que nada foi considerado além do que estava escrito. A lei foi apenas seguida e fim de papo. Acho melhor, senhores, vocês começarem a se diferenciar. Mostrar os anos de estudo que vocês têm. Porque, se for para apenas seguir o que está escrito, logo teremos um robô para fazer isso. Estamos no século XXI, qualquer profissão que possa ser substituída por máquinas assim será. Toda máquina é objetiva e segue o que está programada para fazer. E vocês atuaram como robôs seguindo o que já estava pré-estabelecido. O que estava no manual de instruções Sem nenhum diferencial, absolutamente nada. Feito máquinas.

Se bem, que vocês sabem não ser máquinas quando querem não é verdade? Em 2010, quando ocorreu o mesmo caso com o Fluminense, não tiraram os pontos e o título deles. Ali foi considerada a moral e os princípios. Agora, quando é a Portuguesa que está na linha de tiro e o Fluminense pronto para ser beneficiado, vamos nos transformar em máquinas.

O fato é que de nada adiantou todo o teatro e representação realizados ontem. Tudo já estava definido antes mesmo de começar. Venceu a objetividade e seus idiotas. Venceu a unanimidade e sua burrice. Venceu a aplicação da lei em detrimento da justiça. Hoje somos piadas no resto do mundo. Parabéns a todos os envolvidos. Tirando os torcedores do Fluminense, alguns ridículos a ponto de irem à frente do local torcer como se estivessem em uma arquibancada pela absolvição da incompetência do próprio clube, vocês envergonharam um país. E serão marcados por isso.